sexta-feira, 9 de setembro de 2011

DEA ainda precisa de mais reconhecimento no país

Data: 09/09/2011 / Fonte: Revista Emergência

Raramente destacada nos meios de comunicação internacionais, a segunda divisão do futebol espanhol virou notícia mundial em outubro do ano passado quando o meio-campista Miguel García, do Salamanca, foi ressuscitado diante das câmeras de televisão depois de sofrer um desmaio provocado por uma parada cardiorrespiratória em pleno gramado do estádio Helmántico, em Villares de la Reina, Espanha.

O atleta escapou por pouco da morte graças à utilização, pela equipe médica, de um DEA (Desfibrilador Externo Automático), fato que ajudou a expor a telespectadores, leitores e internautas brasileiros a importância de um equipamento ainda pouco presente no país em locais públicos como rodoviárias, aeroportos, shoppings, estações de trem e estádios de futebol.

Pouco conhecido de boa parte da população, o DEA normalmente está disponível em áreas com grande circulação de pessoas apenas por força de legislações municipais ou estaduais que determinam a obrigatoriedade do dispositivo. É o que ocorre em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Manaus e Campinas. Também há leis estaduais em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.

O tema é alvo do projeto de lei federal 4050/2004, cuja tramitação está parada desde 2008 na Câmara dos Deputados. A proposição foi apresentada ao Senado em 2003 pelo então senador Tião Viana (PT/AC), hoje governador do Acre. O texto foi aprovado em caráter terminativo na Comissão de Assuntos Sociais da casa em agosto de 2004.

Remetido à Câmara no mesmo mês, o projeto chegou a ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania quatro anos depois, mas a tramitação não foi levada adiante desde então.

A proposta prevê a obrigatoriedade de DEAs em locais com circulação ou concentração de mais de duas mil pessoas por dia ou em veículos de transporte coletivo com capacidade superior a cem passageiros. Apenas um parágrafo fala no treinamento, obrigando a presença de, pelo menos, uma pessoa treinada e designada para operação do equipamento e realização da RCP (Ressuscitação Cardiopulmonar).

Já a lei paulistana aprovada em 2005 e alterada em 2007 determina o acesso ao desfibrilador nos locais com concentração acima de mil pessoas ou circulação diária acima de 3 mil pessoas. A regra também vale para clubes e academias com mais de mil sócios e instituições financeiras e de ensino com circulação diária de 1,5 mil pessoas.

A norma também obriga o treinamento de dois funcionários por turno, além de todos os integrantes da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e brigadistas de incêndio e de emergência da unidade.

Conscientização
A fixação de normas, no entanto, não é suficiente para difundir o acesso aos DEAs, na avaliação de especialistas ouvidos. A ideia é de que toda lei precisa vir acompanhada de um trabalho de conscientização da comunidade sobre a importância do DEA. "É preciso que a população seja educada para reconhecer os sinais e sintomas que precedem um ataque cardíaco", afirma a enfermeira Daniela Morais, pesquisadora na área de parada cardíaca/ressuscitação cardiopulmonar em ambiente pré-hospitalar.

A falta desta cultura e do conhecimento sobre como usar o equipamento acaba tornando as leis pouco efetivas, como ocorre em Belo Horizonte, onde Daniela atua como enfermeira assistencial da Unidade de Suporte Avançado do SAMU. Na capital mineira, a obrigatoriedade do DEA está prevista em lei municipal desde 2007. Mesmo assim, de acordo com Daniela, não é comum ter estes equipamentos disponíveis para atender emergências na cidade. "Atendo vítimas de parada cardíaca em locais públicos que, muitas vezes, não recebem nenhum tipo de atendimento até a chegada da ambulância. Isto é muito triste, as pessoas colocam todas as suas expectativas no SAMU, e, às vezes, o atendimento se resume apenas na constatação do óbito porque os primeiros elos da corrente da sobrevivência não foram implantados", lamenta a especialista.

Para Carlos Eid, chefe do Departamento de Atendimento Pré-Hospitalar da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), o principal desafio para a popularização da oferta e aplicação dos DEAs no Brasil é a superação desta falta de cultura. Isto porque muitos países, segundo ele, não têm legislação a respeito e, mesmo assim, apresentam vasta utilização do desfibrilador, já que há uma consciência de que se trata de um equipamento importante e necessário.

Leia a matéria completa na edição de setembro da Revista Emergência

Foto: Arquivo/Waltecir Lopes

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